terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

A Tarde demite repórter após pressão de mercado imobiliário

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Aguirre Peixoto
O Jornal A Tarde demitiu na tarde de hoje o repórter de política Aguirre Peixoto, considerado um dos melhores quadros do matutino. Segundo fontes de A Tarde, a demissão teria ocorrido por pressão de um poderoso grupo do mercado imobiliário de Salvador, após uma série de reportagens do veículo que teria desagradado aos empresários. Por causa das matérias, o jornal teria perdido anunciantes do setor, que exigiram a cabeça do repórter. A demissão de Aguirre causou perplexidade e reação na redação do jornal, onde jornalistas produziram uma carta aberta de repúdio à decisão do matutino. Segue abaixo um trecho da carta:
Hoje é um dia triste não só para nossa história pessoal, mas também para A TARDE e, principalmente, para o jornalismo da Bahia. Um dia em que A TARDE, um jornal quase centenário e que já foi o maior do Norte e Nordeste e que tinha o singelo slogan “Saiu n´A TARDE é verdade” se curvou. Cedeu a pressões econômicas difusas e demitiu um profissional exemplar.

Aguirre Peixoto teve a cabeça entregue em uma bandeja de prata a empresas do mercado imobiliário em uma tentativa de atração/reaproximação com anunciantes deste setor. Tentativa esta que pode dar certo ou não. Uma medida justificada por um suposto “erro grosseiro” não reconhecido pela Diretoria de Jornalismo, pelo Editor-Executivo, pelo Editor-Chefe, por secretários de Redação, Editor Coordenador ou editores de Política.
Uma medida, enfim, que só pode ser entendida como uma demonstração de força excessiva, intimidatória à autoridade da Direção de Jornalismo, à Coordenação de Brasil e à Editoria de Política. Uma demonstração de força desproporcional, porque forte não é aquele que age com força contra algo ou alguém mais fraco. Forte seria enfrentar, como o jornalismo de A TARDE estava enfrentando empresários que iludidos pela promessa do lucro fácil e rápido põem em risco recursos financeiros de consumidores, o meio ambiente da cidade e que aviltam, desta forma, toda a cidadania soteropolitana.
Aguirre era o elo mais fraco da corrente. Acima dele havia editores, coordenador, secretários de redação, editor-executivo, editor-chefe, diretor de Jornalismo. Todos, em alguma medida, aprovaram a pauta, orientaram o trabalho de reportagem e autorizaram a publicação da reportagem. Isso foi feito sem irresponsabilidades, pois não foi constatado nenhum erro, muito menos um “erro grosseiro”. Se algum erro foi cometido, o erro foi o da prática do jornalismo, uma atividade cada vez mais subversiva em época em que propositadamente se misturam alhos e bugalhos para confundir, iludir, manipular a opinião publica, a sociedade, a cidadania. É de se estranhar que uma empresa que se coloca como defensora da cidadania aja de tão vil maneira contra um de seus melhores profissionais.
Os jornalistas farão uma assembleia amanhã para discutir o assunto. Veja aqui a íntegra da carta aberta.

Um comentário:

  1. Essa é a política perversa e voraz dos grandes empresários americanos que através de seus manuais capitalistas disfarçados de bibliografia corporativa, ensina que o boicote econômico é a melhor forma de estar no controle. Assim a meritocracia, a justiça, a ética e o profissionalismo deixam de ter valor, valendo somente o jogo de interesses e a aceitação do poderio da classe dominante.

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